MORADIA DE PENSÃO
Chove
agora em São Bento do Sul-SC. A temperatura cai, 10 graus, tarde de quarta-feira,
15 horas, mês de abril. Na rádio, toca Blues dos anos sessenta. Ia sentindo
saudades, quando me lembrei da famigerada vida de Pensão naquele tempo, em
Recife. Quem estiver planejando sair de casa, separar-se conjugalmente, mire um
apartamento ou uma casa, pois vida de Pensão é muito triste. Tão triste que
estimula suicídios.
Lembro-me,
saindo do bairro paradisíaco, Várzea, cheio de alegrias, brincadeiras e
liberdade, deparei-me com uma Pensão. Agora, não poderia mais cantar, pois
incomoda os outros. Nem fazer serenatas, já que não há casas com mocinhas que
acendiam as luzes do quarto, avisando que estavam ouvindo. Não podia cantar no
banheiro, visto que significava demora de banho, gasto com água. Então, pode-se
ler um livro? Não. Isto consome energia elétrica; os quartos são sempre escuros
e não pode demorar com a luz acesa. E ouvir rádio? Não há rádio nos quartos,
nem pode ligá-los, incomoda. Então, nem cantar, nem ouvir músicas. Ah! Vou
descer à rua! E aí, não há terra, matos, flores, bola de futebol e de voleibol,
festa em casas de vizinhos, fruta no pé, serestas de rua, um cavaquinho tocado
num boteco!
Meu
Deus! Volto então ao quarto. Um silêncio fúnebre! Um quarto feio e
infecto. De vez em quando um rato passa
rápido. Mas até ele às vezes é útil. O susto distraiu-me da ideia de suicídio,
e na parede uma barata; nos corredores, as vozes do (da) proprietário (a) da
Pensão, sempre reclamando algo, fazendo alguma ameaça, como se fosse carcereiro
de uma penitenciária!
A
revolta embaça a ideia de suicídio. Levanto-me, troco de roupa, um pouquinho de
dinheiro no bolso leva-me então ao baixo meretrício. Lá bebo uma cachaça com
abacaxi, encontro um conhecido que me paga uma cerveja, negocio com uma
prostituta uns minutinhos de sexo por pouco dinheiro. Quando não consigo, volto
à Pensão com vontade de morrer! Quando consigo, e olho a mulher, expulsando-me
do quarto com gestos, e sinto pena e nojo dela, sinto também pena de mim, e um
pouco de nojo por entrar no corpo de uma mulher de todo mundo. Volto à Pensão,
com vontade de morrer! Um banho, porém, me distrai. Após o banho, já está
amanhecendo. Com fome, aguardo o café com pão da manhã. A dona da Pensão já
está gritando! Que sina esta minha! Adoro mulher, detesto mulher gritando! (a
não ser em momentos sexuais). Minha mãe gritava o tempo todo, as donas das
pensões que morei gritavam o tempo todo!
Quando
é que o ser humano vai se aperfeiçoar como animal Sui Gêneris!?
O
mundo prosperou materialmente de forma gigantesca, não se pode negar. Mas o
homem, “cospe” na sua beleza interna e se emporca-lha cada vez mais nas
pútridas sujeiras do seu Ser!
Tomara
que as Pensões hoje não sejam mais assim! Tomara meu Deus!
Mas
não desanime quem não tem onde morar, a Pensão é menos mal do que dormir na
rua, onde será chutado feito um cachorro, e ainda tem monstros que assassinam
um miserável morador de rua pelo fato deste ser profundamente infeliz.
Escuso-me
por um escrito tão triste. Mas já que a demência toma conta da maioria, é
necessário alfinetar as almas a fim de ver se brotam e se exteriorizam os impulsos
de reflexões filosóficas presenteados pela divindade!
(Crônica de autoria de Fídias Teles)
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