sexta-feira, 21 de agosto de 2009

GESTÃO DEMOCRÁTICA: CONCEPÇÕES E VIVÊNCIAS

Tatiane Pasdiora
15/08/2009

RESUMO


Educar, amar, cuidar, conduzir, democratizar, palavras tão simples de serem pronunciadas, porém tão complexas de serem postas em pratica. Este pequeno artigo nos mostrará o que é a gestão democrática, como a escola poderá democratizar-se e qual nosso papel perante esta realidade.
Palavras-chave: Democratização; Comunidade; Gestão Escolar.


INTRODUÇÃO


A escola tem passado por diversas mudanças. Desde sua criação até o nosso século, ela passou por períodos favoráveis e desfavoráveis . É comum ouvirmos nossos pais e avós falarem de sua época educacional, onde o behaviorismo predominava e se pararmos para pensar, pouca coisa mudou, ela evoluiu, porém está sempre agarrando as correntes metafísicas da história.
Hoje podemos dizer que vivemos ou estamos tentando viver uma escola sócio-crítica dos conteúdos, libertadora, democrática, onde suas funções são levadas a sério e o educando é o principal foco de atenção.
Para muitos, a função da escola é educar, contribuir para a formação do aluno, prepará-lo para a vida. Penin e Vieira (2002, p. 17) “[...] a escola representa a instituição que a humanidade criou para socializar o saber sistematizado”.
Já para Wittman, (2004, p.16) atribui-se a escola “a função de garantir educação aos estudantes, contribuindo para que se tornem sujeitos, [...] cria oportunidades para que eles decidam, pensem, tornem-se livres e responsáveis, autônomos, emancipados”.
É lamentável e estarrecedor saber que a escola prepara pessoas para adquirir um bom emprego, porém não às prepara humanisticamente para sobreviver neste emprego. Creio que a escola democrática veio para mudar esta realidade. As escolas esquecem que as ciências humanas em geral são importantíssimas para auxiliar a vida de alguém, as instituições precisam preparar o aluno de uma forma que ele não se torne uma mercadoria “fetichizada”, assim como diz Karl Marx.


GESTÃO, GESTÃO DEMOCRÁTICA E CONCEPÇÕES


Ao analisarmos a gestão democrática da escola, precisamos compreender o sentido de gestão. Para mim, gestão é um conjunto de fatores, pessoas que buscam fortalecer a democracia na escola, não deixando de visar o processo pedagógico como fonte de mudança.
A gestão da escola vem passando por diversas mudanças, desafios, pois a sociedade está cada vez mais exigente e quer que a escola não forneça apenas conhecimento e sim humanismo. A gestão democrática, é aquela que tem por finalidade compartilhar decisões e informações, preocupa-se com a qualidade na educação, expõe transparência nas finanças, além de tomar atitudes, não deixar apenas no papel as decisões e sim colocá-las em prática.
Escola democrática é aquela que traz a comunidade (pais, professores, serventes, alunos, direção...) para decidir sobre seus assuntos, dando suas opiniões, trazendo novas idéias, onde todos visem a qualidade de ensino numa escola com perspectivas de mudança. Sabemos que unidos podemos ter uma escola mais viva, ativa e menos carente, menos decadente.
É importante lembrarmos também que cada qual deve cumprir sua função, ou seja, o professor conforme Hamachek (1978, p.197),

“[...] devem ajudar os alunos a reconhecerem suas forças e possibilidades ou podem lembrar aos estudantes reiteradas vezes de suas fraquezas e falhas, [...] deve mostrar que o educar vai além do papel e caneta, é fazê-lo reconhecer que é sujeito de mudança”.


A escola que buscar novas fontes de conhecimentos, projetos que auxiliem no trabalho pedagógico, enriquecendo o Plano Político Pedagógico e a comunidade auxiliando no que for preciso.
A constituição nos fala sobre princípios da escola democrática, que deve ter igualdade, a muitos anos a escola luta por isso, mas está cada vez mais difícil. Liberdade, onde todos possam aprender, tenham liberdade para buscar conhecimento, liberdade de se expressar, Paulo Freire nos diz que o aluno aprende com o professor e vice-versa, sendo assim precisa ter liberdade de mostrar que tem muito a ensinar e não apenas aprender, pluralismo de idéias, onde a ideologia de todos esteja presente, gratuidade no ensino, onde os pobres tenham direito ao ensino público de qualidade e não apenas os ricos, valorização dos profissionais, onde os professores possam ser melhor remunerados, recebam cursos e tenham segurança no trabalho, pois hoje os professores são espancados em plena sala de aula, como ocorreu um caso recentemente aqui em Florianópolisestá, outro princípio é a gestão democrática, onde como já falamos, toda comunidade inclua-se no trabalho escolar e por fim a garantia de uma educação qualitativa.
É preciso lembrar que para democratizar a escola é preciso democratizar toda a sociedade, pois muitos não participam das decisões políticas, sociais, culturais e econômicas de seu país, não entendem que democratização é participar, ajudar, unir, construir. Para Rodrigues, (1996, p. 39),

“A escola se democratizará a medida que seus processos decisórios estiverem coligados aos interesses de todas as classes. Isso significa necessariamente que temos de discutir toda a questão dos fins da escola, e que esta discussão não pode ser privilégio dos intelectuais, das lideranças ou das elites educacionais. [...], é preciso colocar a questão democratização em torno da definição dos objetivos da escola, e determinar o papel dos agentes educacionais [...]bem como o papel que a comunidade pode ter na determinação dos fins da educação, no dia-a-dia da escola, nos problemas específicos da atividade escolar”.

Ou seja, precisamos tentar acabar com a divisão de classes para podermos construir uma escola democrática, e mostrar que unidos, sejam pobres, ricos, índios, brancos, negros, pardos, etc..., apenas unidos poderemos melhorar a qualidade de ensino no Brasil.
Ao analisar estes sistemas educacionais lembrei-me de um verso de Rubem Alves (2002, p. 29), onde ele falava sobre a escola de uma forma filosófica:

“Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas. Escolas-gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Engaiolados são os pássaros sob controle. Seu dono pode levá-los aonde quiser. Deixaram de ser pássaros, pois, a essência dos pássaros é o vôo. Escolas-asas não amam os pássaros engaiolados, amam os pássaros em vôo. Ensinar o vôo não podem, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo pode ser encorajado.”

Enfim, a arte de educar...


CONCLUSÃO


Trabalho a muito pouco tempo na área educacional, porém quase o suficiente para saber que a escola precisa de reformas como um todo.
Democratizar a escola implica em muitos aspectos, com certeza é um trabalho desafiador, mas os educadores estão sendo preparados para isso e junto com os gestores buscarão fazer um trabalho amplo e eficiente em prol da educação de qualidade, acredito sim que unindo a comunidade, o governo e a escola, chegaremos a ter uma escola democrática quase perfeita, realizada, e não imaginária, para que assim Paulo Freire, tenha razão:

A Escola
Escola é...
O lugar onde se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
programas, horários, conceitos...
escola é, sobretudo, gente,
gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente.
O coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente,
cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
na medida em que cada um
se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de uma “ilha cercada de gente por todos os lados.”
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como o tijolo que forma a parede,
indiferente, frio, só...
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se “amarrar” nela!
Ora, é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se...
Ser feliz.


REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. “Por uma educação romântica”. Portugal. Papirus. 2002
Constituição Federal, disponível: Brasil/Constituição Nacional, art. 206.
FREIRE, Paulo. “A Escola”, poema disponível em www.paulofreire.org
PENIN, Sonia Teresinha de Souza. “Progestão: como articular a função social da escola com as especificidades e as demandas da sociedade?, Brasília: Consed, 2001.
RAMACHEK, Dom. E. “Encontros com o Self” 2ª edição. Rio de Janeiro: Interamericana, 1978.
RODRIGUES, Neidson. “Da Mistificação da Escola a Escola Necessária”, São Paulo, Cortez, 1996.
WITTMANN, Lauro Carlos. “Conselho Escolar e Gestão Democrática da Educação e Escolha do Diretor., Brasília, MEC, 2004.