A ludicidade na
educação infantil
A
educação e sua eterna complexidade. Desde sua história, inúmeros conceitos e
concepções surgiram. Criou-se a educação infantil, onde de início, era um
local, um ambiente para apenas cuidar de crianças, não visando seu
desenvolvimento integral. Hoje tudo é diferente. A educação infantil evoluiu, passou-se a dar
mais atenção ao desenvolvimento total da criança, como sendo um sujeito de
direitos, que precisa ser cuidada, amada, respeitada e desenvolvida em todos os
seus aspectos bio-psicomotores.
O
lúdico, a brincadeira é o método mais utilizado na educação infantil, pois é
através deste que a criança expõe boa parte de seus sentimentos, frustrações,
realizações e adquire sua autonomia. Carlos Drummond nos diz que “Brincar com criança não é perder tempo, é
ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é velos
sentados enfileirados, em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para
a formação do homem”. [1]
Ou
seja, a escola não deve ser um espaço onde a criança fique enjaulada e sendo
obrigada a engolir todo o conteúdo pragmático exposto pelo professor, mas sim
um lugar onde ela possa principalmente, ter liberdade para brincar.
O
ser humano naturalmente adora brincar. Mesmo nós adultos brincamos e nos
divertimos, estamos sempre buscando a criança escondida dentro de nós.
São
inúmeras as brincadeiras que nos traz lembranças maravilhosas de nossa infância
e que foram passadas de geração em geração. Podemos destacar as mais
recreativas, o esconde-esconde, pega-pega, jogar bola, brincar de taco, bola de
gude, casinha, betes, carrinho, de boneca, entre outras brincadeiras que nos
deixavam na rua até altas horas da noite e embalava nossa infância, o que está
se tornando cada vez mais raro, em “virtude” da mecanização da sociedade, das
praças e ruas cimentadas, da tristeviolência
que está a nossa volta. Faltam os
campos cheios de grama e areia, as árvores onde nos pendurávamos e pulávamos
arriscando nossas frágeis perninhas, os matagais onde nossos amigos levaram
tempo nos procurando na brincadeira de esconde-esconde e as árvores frutíferas
que nos alimentavam quando nos esquecíamos de ir para casa almoçar. O capitalismo está corroendo até nossas
crianças, nos tornamos uma sociedade fetichizada, como já disse no século
passado o grande Karl Marx.
Temos
também as brincadeiras que exigem limites e regras, e que devem ser utilizadas
na educação infantil, porém de forma sábia, são os conhecidos jogos. O brincar
dá prazer ao ser humano. É um momento de imaginação, diversão, de profundidade,
internalização com o mundo interior e exterior, comunicação, expressão, ação,
exploração, é um meio
de aprender a viver, uma eterna descoberta. A Proposta Curricular de Santa
Catarina em suas extensas e vastas páginas nos fala sobre o ato de brincar,
onde o professor deve: “[...]
organizar as ações da escola com base nos jogos e brincadeiras, visando
construir na criança conhecimentos sobre o mundo, sempre levando em
consideração os contextos a qual ela está inserida”.[2]
Ou
seja, está bem claro que a brincadeira é muito importante para o ser humano em
todos os seus aspectos. É importante fazer da brincadeira uma prática
problematizadora, onde a criança busque resolvê-la de forma lúdica, sadia,
olhando o ambiente onde está inserida e as formas de comunicação a sua volta.
Ainda a mesma Proposta Curricular de Santa Catarina, nos diz, “A
ludicidade é outro fator importantíssimo para se trabalhar com as crianças de
zero a seis anos, pois através do brinquedo ela interage com o mundo, com sua
imaginação, seu corpo, sua vida, sua totalidade”.(P.C.S.C, 2005, pg. 58). [3]
Sendo
assim, devemos “sempre” seguir as normas que regem nosso Estado e como
educadoras levar a bandeira da brincadeira em nosso cotidiano escolar.
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA VISÃO DE VYGOTSKY
Lev Semenovitch Vygotsky foi um
educador muito importante na história educacional mundial. É dele a conhecida
teoria interacionita sócio-histórica, onde tanto trabalhamos, estudamos e
observamos em sala de aula.
Ele nos diz que a vivência em
sociedade é extremamente importante para o desenvolvimento humano, que o homem
transforma-se através do convívio com os outros e uma forma da criança
socializar-se com o mundo a sua volta, é através da brincadeira grupal. Para
aplicar na prática sua teoria do desenvolvimento intelectual é preciso que a
criança o adquira socialmente, ou seja, para ele todo o conhecimento é
adquirido e construido em sociedade. Sendo assim, o professor deve propiciar
momentos de interação entre os educandos, onde eles possam socializar suas
brincadeiras, trocar ideias, conceitos, ideais, mas sempre é preciso lembrar
que o educador jamais deve interferir no brincar da criança, conforme o
pensador em questão é preciso deixar a criança brincar livremente, o professor
deve ser mediador, observador, das suas ações.
É importante que coloque à
frente da criança brinquedos de diversas cores, tamanhos, expesuras e deixar
que ela escolha livremente qual brincadeira quer e com qual amigo deseja
brincar. Para ele a brincadeira preenche todas as necessidades que a criança
venha ter em sua infância, ele entende o termo necessidade como uma motivação
do ser humano e não apenas como algo de sobrevivência, de necessidade física. Vygotsky
(1996, p. 121), nos diz que brincadeira é, [...]
“Tudo aquilo que é motivo para a ação” [...] é uma atividade caracterizada por
ações que satisfazem necessidades.[4]
A
brincadeira é muito importante para o desenvolvimento do ser humano em todos os
seus aspectos. Vygotsky nos fala sobre a importância do jogo também porque atua
na zona de desenvolvimento proximal, ou seja, faz com que o sujeito crie
condições de adquirir conhecimento, valores, socialize e imagine fatos e
situações problematizadoras. É na brincadeira que ela adquirirá conceitos importantes perante a sociedade,
como regras, comportamentos, hábitos e internalizará seu mundo real com o
imaginário ativando seu desenvolvimento cognitivo. Ele analisa os jogos que desenvolvem a
memória como de suma importância para a criança, ela sempre os brincará em
conjunto e sua teoria sempre está baseada na relação em grupo. Segundo Vygotsky
(1996, p. 128)[5]
“O jogo da criança
não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das
impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e
inclinações dela mesma”. (VIGOTSKY, 1996, p. 128).
É
evidente que a teoria de Vygotsky está baseada na interação que o indivíduo tem
com o mundo a sua volta e é através das brincadeiras na educação infantil que a
criança terá este convívio mais intenso, pois o brincar é o método mais
utilizado neste período e ele destaca que o brincar é o que realmente
desenvolve positivamente a criança em todo seu aspecto intelectual.
[1] Frase disponível em: http://portalliteral.terra.com.br/artigos/brincando-com-drummond
[2] PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA. Secretaria
Estadual de Educação e Desporto, 2005.
[3] Obra
citada, pg. 58
[4]
VIGOTSKI,
L. S. A Formação Social da Mente.
SP, Martins Fontes, 1996, p. 121.
[5] VIGOTSKI, L. S. A Formação
Social da Mente. SP, Martins Fontes, 1996, pg. 128
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