A RELEVÂNCIA
DAS QUESTÕES AMBIENTAIS E DA SUSTENTABILIDADE NUMA ABORDAGEM HISTÓRICA E
SOCIOLÓGICA DO RIO CACHOEIRA
RESUMO
No decorrer do processo histórico é notável que toda
ação do homem reflete no meio onde está inserido. O impacto ambiental vem sendo
observado desde o renascimento urbano no século XV e com o bem de consumo fruto
do pós-guerra, percebe-se que, além dos poluentes industriais, o próprio
consumo gera modificações no meio ambiente, é o que tem acontecido com o Rio
Cachoeira. Esta Bacia Hidrográfica, como se sabe, constitui parte importantíssima do patrimônio histórico de Joinville, porém este importante patrimônio
está sendo destruído graças as ações do homem, um problema ambiental que
precisa ser solucionado com urgência.
Palavras-chave: Cachoeira. Histórico. Sociológico. Ambiental.
Sustentabilidade.
1 INTRODUÇÃO
O meio ambiente é de
extrema importância para a vida do Planeta Terra. O homem está constantemente
modificando o meio ambiente, através de ações negativas, tais como a poluição,
desmatamento das florestas, degradações e extinguindo animais.
O Brasil é um país que
possui uma biodiversidade muito rica, porém diariamente se vê em noticiários
que o homem está acabando com toda a riqueza aqui existente e isso pode ser
visto na cidade de Joinville, onde o rio Cachoeira, importante Bacia
Hidrográfica local, que sofre com as ações do homem e achou-se relevante levantar
este tema como fonte de conhecimento.
Num primeiro momento
buscou-se conhecer e compreender a história do Rio Cachoeira e a
problematização sociológica que rondam esta bacia hidrográfica. Pois se sabe
que tudo na vida tem uma história e que o indivíduo faz parte desta história.
Em segundo plano, porém
não menos importante destaca-se as questões ambientais que rodeiam o rio
Cachoeira e o conceito de sustentabilidade.
2 A
RELEVÂNCIA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS E DA SUSTENTABILIDADE NUMA ABORDAGEM HISTÓRICA
E SOCIOLÓGICA SOBRE O RIO CACHOEIRA
2.1
LEVANTAMENTO HISTÓRICO DO RIO CACHOEIRA
Contextualização
histórico-sociológica do saneamento básico e cuidados gerais com a água:
Em toda a linear do processo
histórico, é possível observar que toda atividade humana interfere no meio em
que este está inserido. O surgimento da civilização deve-se à água [FERREIRA
2009], pois foi nas proximidades de grandes rios que os primeiros grandes
redutos humanos sedentários se reuniram e se desenvolveram.
Antes dos povos da antiga
Mesopotâmia e dos egípcios, as pequenas comunidades nômades deixavam, sim,
dejetos e resíduos por onde passavam [GUARINELLO 1994], mas a quantidade era
muito pequena para produzir qualquer modificação mais agravada no ambiente.
Quando a população começou a
aumentar, foi necessário buscar uma forma de tratar a água para consumo: no
Egito, a água era armazenada em jarros por um tempo suficiente para que os
sedimentos presentes se depositassem no fundo, já no Império Romano, as
tubulações de abastecimento e tratamento de esgoto eram tão bem construídas que
era possível transitar por elas utilizando-se de uma carroça.
Durante o medievo, houve certo
retrocesso no hábito de tratar a água consumida e os dejetos humanos. A
organização social, constituída de povoações pequenas, porém demograficamente
lotadas, sujas e de vias não pavimentadas, e a mentalidade do homem desse
período, que considerava o banho pós-batismo algo dispensável [DUBY 1989],
trouxeram à tona vários problemas decorrentes do descaso com rios e outras
fontes hídricas, como grandes enchentes e a própria Peste Negra [FERREIRA
2009].
No decorrer desse período,
praticamente não existiu saneamento básico ou tratamento para a água a ser
consumida. Os dejetos eram lançados em qualquer lugar (até mesmo nas ruas,
acertando eventualmente algum pedestre) e nem mesmo as moradas da nobreza
possuíam tratamento de esgoto. O único tratamento que a água para consumo
humano recebiaera um pouco de vinagre para “matar os germes”.
Apesar de toda a “imundice”
medieval, foi no período moderno que os rios realmente passaram a sofrer. Com o
objetivo de melhorar as condições de vida da população e, consequentemente, a
saúde pública, começou-se a pavimentar as vias urbanas, com a construção de
canais para o escoamento do esgoto e outros refugos, que iam parar diretamente
nos rios e lagos.
Desta maneira, as fontes hídricas
passaram a ficar perigosamente contaminadas, visto que além da poluição oriunda
dos canais de escoamento, poços e fontes públicas se contaminavam com
facilidade devido à infiltrações de fossas e cemitérios.
No século XVIII, teve início o
desenvolvimento industrial, o qual desencadeou uma massiva onda de êxodo rural.
As moradias urbanas não possuíam rede de esgoto e os detritos oriundos desses
meios superlotados e sem higiene eram recolhidos e depositados em reservatórios
públicos.
Tal política não era muito
eficiente, pois tais reservatórios públicos acabavam por infiltrar no solo e
contaminar rios, lagos e fontes. Um século mais tarde, houve a introdução do
uso de canos de ferro e das bombas a vapor, porém o sistema de drenagem
continuava arcaico: as fossas raramente recebiam higienização e seu escoamento
acabava nos grandes rios, que mais pareciam grandes esgotos à céu aberto.
A explosão industrial também
contribuiu para a piora da saúde das fontes hídricas [CALDEIRA 1995]: os
refugos industriais também iam direto para os rios. Assim como na Idade Média,
o descaso com a qualidade da água trouxe epidemias e outros males para a
população, como os surtos de cólera em Londres, que ocorreram de 1831 até 1857
[FERREIRA 2009]. No entanto, as autoridades finalmente passaram a perceber a
conexão entre a qualidade da água, o que gerou uma reforma radical no sistema
de abastecimento e escoamento: a água potável foi separada da água servida e os
esgotos à céu aberto foram substituídos por canais subterrâneos em cerâmica
cozida.
No Brasil, o desenvolvimento do
saneamento básico teve início já no cotidiano dos povos nativos, que
delimitavam as áreas destinadas ao recebimento de detritos [GUARINELLO 1994].
Porém, com a chegada do europeu e a formação de povoamentos urbanos, tal
cuidado se reduziu ao recolhimento dos dejetos em barris, que após dias de uso,
eram carregados até as praças centrais, onde eram despejados e, de certa forma,
“lavados”.
O cuidado propriamente dito com o
saneamento básico deu-se apenas após três epidemias de febre amarela no Rio de
Janeiro. A administração foi concedida à empresas inglesas, que atuaram na
construção de chafarizes nas cidades e na distribuição gratuita da água para a
população.
De qualquer maneira, a partir do
século XX, a população passou a se mostrar insatisfeita com a administração
inglesa, o que forçou o governo a estatizar o serviço, que desta vez se focou no
tratamento - e não na distribuição – da água. Com a estatização e os projetos
do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito [FERREIRA, 2009], até o ano de
1930, todas as capitais brasileiras já contavam com sistemas de distribuição de
água e coleta de esgoto.
Durante a Era Vargas, mais
precisamente na década de 1940, a água e os serviços relacionados à ela
passaram a ser comercializados, separando-se o setor de saúde pública do de
saneamento básico [KOSHIBA 1987].
Com o estabelecimento do governo
militar, a concessão da administração do abastecimento passou para mãos
estadunidenses (assim como a maioria dos serviços prestados à população
brasileira), porém, tal administração não se mostrou eficiente e cobriu apenas
21 cidades [KOSHIBA 1987]. Atualmente, apesar de todas as melhorias implantadas
nos últimos 40 anos, a qualidade do saneamento nas áreas menos favorecidas
continua precária, visto que o ritmo das obras não acompanhou, de forma alguma,
o passo do crescimento das cidades e comunidades.
O nível regional, tanto o
abastecimento quando o tratamento da água servida são de responsabilidade
majoritariamente municipal desde 2005. A água é captada do rio Cachoeira,
extremamente ligado com as origens e rotina da cidade. Aquele que outrora
trouxe os primeiros moradores para a cidade [RAMOS, 1998], hoje se encontra
completamente poluído (mesmo com os investimentos em estações de tratamento), recebendo
todo o esgoto residencial e refugos industriais tóxicos. A situação do
Cachoeira preocupa pois, em seu curso, encontra-se remanescentes de manguezais, ecossistema
importantíssimo.
2.2
PROBLEMATIZAÇÃO SOCIOLÓGICA SOBRE O RIO CACHOEIRA
Os impactos e alterações no
meio ambiente como um todo, e principalmente nos recursos hídricos, têm sido
agravados nos últimos anos, pela acelerada urbanização das cidades e intensas
atividades industriais, muitas vezes sem controles ambientais adequados para os
poluentes originados em seus processos produtivos.
É nítida a necessidade de
mudanças no comportamento do homem em relação à natureza e ao meio em que vive
no sentido de tentar promover um modelo de desenvolvimento sustentável
(CARVALHO & OLIVEIRA, 2003 P. 122). Recentemente, foi estimado que a
humanidade consome, sobretudo para a agricultura, cerca de um quinto da água
que escoa para os mares; e as previsões indicam que essa fração atingirá cerca de três quartas partes
no ano de 2025 (BAIRD, 2002, P. 64).
A caracterização da
qualidade das águas, dos aspectos, socioeconômicos, físicos e a proposição de
ações de fortalecimento do uso racional dos recursos hídricos, bem como o
conhecimento da população sobre a importância e a influência dos rios para a
humanidade tem sido ferramenta importante para auxiliar no processo de
conscientização e gerenciamento dos recursos hídricos de uma determinada
região, uma vez que são capazes de informar aspectos relativos à influência das
atividades do homem no meio ambiente e a evolução das condições ambientais ao
longo dos tempos.
Historicamente sabe-se que os rios sempre
foram e ainda são um dos recursos mais importantes para a sobrevivência da
humanidade. Civilizações inteiras foram formadas em torno de rios. Eles são na
maioria das vezes os principais fornecedores de toda a água consumida pela
população de um determinado local. Muitas vezes, além da água, os rios fornecem
ainda alimento, energia e servem como vias de circulação, as quais transportam
pessoas e mercadorias para dentro e para fora de uma determinada região. (BAIRD,
2002, P. 22).
A Bacia hidrográfica do Rio Cachoeira está
totalmente inserida na área urbana do município de Joinville. Esta Bacia recebe
efluentes domésticos e industriais da cidade, na maioria dos casos com
precariedade no que tange ao sistema de tratamento de efluentes.
Drena uma área de 83,12
km², que representa 7,3% da área do município. Tem uma extensão de 14,9 km.
Suas nascentes estão localizadas no bairro Costa e Silva, nas proximidades da
rua Rui Barbosa e Estrada dos Suíços, no entroncamento com a BR-101 (IPPUJ,
2009).
Esta bacia ocupa uma região
relativamente plana. As nascentes encontram-se numa altitude de 40 metros. No
entanto, a maior parte de seu curso, o canal principal, situa-se entre 5 e 15
metros de altitude. A foz encontra-se numa região estuarina sob a influência
das marés, onde se encontram remanescentes de manguezais (FUNDEMA, 2009).
O processo de ocupação da
cidade se deu ao longo do rio Cachoeira e seus afluentes, e hoje comporta 49 %
da população do município (242.575 hab.), e apesar da Bacia Hidrográfica do Rio
Cachoeira drenar uma área com cerca de 83,12 km², que representa apenas 7,3% da
área do município, foi à margem de seus rios que a cidade de Joinville se
desenvolveu, por isso sua bacia ocupa cerca de 39% do perímetro urbano da
cidade (FUNDEMA, 2009). As nascentes do Rio Cachoeira estão localizadas em
bairros com as maiores densidades demográficas da cidade, e sem tratamento de
esgoto.
Estudos realizados por
Silveira et al. (2009) identificaram a bacia do rio Cachoeira com a maior
frequência (30%) das inundações ocorridas em Joinville de 1851 até o ano de
2008, seguida pela Bacia do Rio Cubatão
do Norte (29%), Bacia do Piraí (18%), e demais bacias (11%).
O Rio Cachoeira, como se
sabe, constitui parte importantíssima do patrimônio histórico de Joinville. Por
meio dele chegaram os primeiros imigrantes oriundos de diferentes partes da
Europa. Não somente isso, mas foi também o ponto de partida de toda riqueza
aqui produzida, assim como o meio de chegada de recursos técnicos para a recém
criada cidade de Joinville, desde o surgimento na metade do século dezenove até
o surgimento de outras vias de acesso à cidade. (GONÇALVES, M.L. P 32)
Com a criação da estrada de
ferro e das rodovias que ligam o município de Joinville ao Norte, ao Sul e ao
interior do Estado o Rio Cachoeira foi perdendo sua importância enquanto via de
transporte e consequentemente seu interesse econômico para a região. O
resultado desse desinteresse econômico foi o total abandono deste por parte dos
habitantes da cidade e desde então foi se transformando no principal canal de
esgoto da cidade e depósito de resíduos químicos de indústrias situadas à
margem dele. (GONÇALVES, M.L. P 44 )
A população atual pouco ou
nada sabe sobre a importância histórica e sociológica do Rio Cachoeira. Existem
alguns projetos de despoluição do rio e de reconstituição do meio ambiente e
torno dele. A população de forma geral é indiferente a ele, pelo que se sabe
industrias situadas às suas margens muitas das vezes descartam produtos
altamente tóxicos em suas águas, ocasionando assim a morte do pouco que resta
de vida no rio. (SILVEIRA, W. N.; KOBIYAMA M.; GOERL R.F.; BRANDENBURG B.
(2009). História das Inundações em Joinville, 1851 – 2008. Organic Trading:
Curitiba – PR. P 87)
Traçado assim um pequeno
resumo sociológico da importância do Rio Cachoeira para a cidade de Joinville,
faz-se necessário apontar para os atuais problemas relacionados à poluição e
contaminação do rio assim como levantar algumas propostas coerentes e cabíveis,
levando em conta a forma interesseira e exploradora, assim como a mentalidade
ignorante quanto a importância desse que foi e ainda é um dos mais importantes
rios da região de Joinville.
Por se tratar de um rio com
importância apenas local e ter sido abandonado durante décadas, pouco material
se tem para fazer um trabalho acadêmico mais aprofundado. Não foi encontrado
nenhum material científico publicado para dar um suporte mais consistente ao
trabalho.
Uma possibilidade de estudo
seria uma pesquisa de campo, onde seriam registrados fotograficamente locais em
que o Rio Cachoeira está em situações mais visíveis de abandono. (SILVEIRA, W.
N.; KOBIYAMA M.; GOERL R.F.; BRANDENBURG B. (2009). História das Inundações em
Joinville, 1851 – 2008. Organic Trading: Curitiba – PR. p 98) Mas não somente
isso. Interessante seria também registrar e mostrar locais onde a vida segue
invencível em meio ao caos urbano e industrializado, com todos os problemas
decorrentes dessa realidade. Afinal, um rio não serve apenas como local de
exploração e sobrevivência das pessoas, mas principalmente como parte
fundamental de todo um ecossistema local. Mesmo que o Rio Cachoeira nunca mais
volte a ter sua importância como canal de transporte e escoação dos produtos da
região, ainda pode e deve tornar-se um local para ser admirado pelos habitantes
da região e turistas oriundos das mais diversas partes do estado e quem sabe
até mesmo de fora dele.
2.3 QUESTÕES
AMBIENTAIS
O Rio Cachoeira é uma das Bacias Hidrográficas mais importantes do Estado
de Santa Catarina, quiçá da cidade de Joinville.
Durante muitos anos o Rio Cachoeira foi conservado, suas matas ciliares
protegidas, sendo utilizado apenas para pesca, porém com a expansão da Colônia
Dona Francisca devido à industrialização, suas matas ciliares foram sendo destruídas para construções de casas,
pontes e travessias, rodovias, canais de irrigação, aterros sanitários,
indústrias e campos destinados
à agricultura, pecuária e piscicultura.
Para adentrar-se aos temas ambientais que envolvem o Rio Cachoeira
percebe-se a necessidade de compreender-se o conceito de meio ambiente e
questões ambientais.
Entende-se por meio ambiente todas as coisas vivas e não vivas existentes
na natureza e aquelas que afetam o ecossistema e a vida dos seres humanos. Já
Art considera o meio ambiente como sendo,
“[...] conjunto de condições que envolvem e sustentam
os seres vivos na biosfera, como um todo ou em parte dela, abrangendo elementos
do clima, solo, água e de organismos [...] a soma total das condições externas
circundantes no interior das quais um organismo, uma condição, uma comunidade
ou um objeto existe. O meio ambiente não é um termo exclusivo; os organismos
podem ser parte do ambiente de um outro organismo”. (ART, 1998, p. 583).
Ou seja, o meio ambiente são as flores, plantas, rios, lagos, sol, lua,
solo, relevo, clima, enfim, meio este em que o homem está inserido e as
questões ambientais tratam diretamente de tudo o que afeta o meio ambiente,
como por exemplo, a poluição, degradação, desmatamento, queimadas, esgotamento
do solo, extinção de animais, abertura da camada de ozônio, aquecimento global
etc... O termo questão ambiental surgiu quando se visou à necessidade de
proteger o meio ambiente das ações humanas, o conhecido movimento verde.
Com o Rio Cachoeira não é diferente, ele tem sofrido constantemente com
as negativas ações produzidas pelas indústrias joinvillenses, e seu maior
problema ambiental é a poluição, que recebe diariamente o esgoto industrial e
residencial. O Instituto Viva o Cachoeira, uma Organização não Governamental
luta constantemente pela limpeza e proteção do Cachoeira. O rio corta o centro urbano
de Joinville, e para isto foi necessário destruir as matas ciliares que rodeiam
e protegem o rio.
As matas ciliares são aquelas
árvores, plantas, coberturas vegetais que se encontram às margens dos rios
protegendo-os. Segundo Franco,
“[...] as matas ciliares apresentam
inquestionável de sua importância, em relação
aos mais diversos fatores
ambientais, devido a suas características peculiares,
sempre associadas aos cursos de água
e por situarem-se, de maneira geral, em regiões
ecologicamente muito sensíveis e importantes da paisagem [...]”.
(FRANCO, 2005, p.129).
O termo ciliar origina-se da palavra cílios, pois são os cílios que
protegem os olhos, sendo assim as matas ciliares protegem os rios e quando
estas são cortadas, vêm às enchentes, deslizamentos, desmoronamentos. Quando a
chuva cai, as árvores e flores seguram estas gotas que caem com menos
intensidade no chão. Quando as matas ciliares são cortadas, à água da chuva cai
diretamente do chão, encharcando o solo, demorando a secar, e as construções
que estão em torno do rio desmoronam-se e são levadas pela correnteza dos rios.
Na área central o Cachoeira é rodeado por barragens de concreto, mas isso
não impede que o rio inunde a cidade. Quando chove com intensidade as suas
águas alagam a o centro, trazendo sujeira e animais peçonhentos, sem falar nas
diversas doenças.
O Rio Cachoeira possui uma rica biodiversidade de animais, dentre eles o
Jacaré Fritz, importante figura popular da cidade. Mas lá se encontram também
aves, mamíferos, peixes e répteis como a garça-vaqueira, garça branca e a azul,
gaivotas, corruíra, chupim, preá, capivara, lontra, cágado, lagarto, guaru,
cará, cascudinho e a tainha.
O rio sofre constantemente com a poluição. As indústrias, prédios e
comércio despejam em suas águas litros e litros de esgoto, matando peixes, aves
e espantando muitos animais que fazem do Cachoeira a sua morada. Já há projetos
a fim de despoluir o rio, muitos dizem que ele não está mais poluído, porém
pouco se percebe a limpeza do mesmo, principalmente para quem passeia, corre ou
passa diariamente pela beira do rio que
sofre com o odor saído das águas do rio.
Muitas escolas estão realizando projetos para proteger o rio cachoeira,
pois é necessário mostrar aos educandos a extrema importância dos rios para o
ser humano. Dele é retirado à água utilizada diariamente pelos brasileiros para
fazer suas necessidades básicas, como comer, lavar roupa, louça, banhar-se,
escovar os dentes, dentre outros.
A empresa Águas de Joinville tem uma parceria com a prefeitura de
Joinville que juntas levam para as escolas a importância da água e da
conservação dos rios que rodeiam a cidade. Pois é através dos futuros moradores
de Joinville que se poderá mudar esta realidade tão presente no cotidiano.
2.4 SUSTENTABILIDADE E O RIO CACHOEIRA: UM CASO DE URGÊNCIA ECOLÓGICA
Quando o assunto é sustentabilidade um leque de
opções se abre, de modo que, o assunto é realmente amplo. Sustentabilidade tem
haver com a sustentação da vida, isto é, daquela manutenção dos recursos naturais que possibilitam uma vida saudável,
não apenas para o ser humano, mas também para todo o ecossistema. Isto é de
grande importância uma vez que a vida em sua diversidade está inteiramente
interligada, constituindo-se em uma verdadeira rede de relações que
possibilitam a vida em toda a sua diversidade e beleza (RIBEIRO, 2014, p.
01-02).
Portanto, cabe lembrar a grande responsabilidade humana em relação à esse
sistema vital. Certamente que, frequentemente os maiores causadores de males
para o planeta é o próprio ser humano e, assim, compromete-se a qualidade de
vida. Isto posto, pretende-se ocupar aqui, mais especificamente com a questão
da água, ou melhor, com o rio Cachoeira.
Este lamentavelmente tão conhecido na cidade de
Joinville por sua condição de flagrante poluição e mau cheiro. Tornando-se de
desse modo um testemunho da falta de cuidado e proteção dos recursos naturais.
Os mais jovens nunca o viram repleto de vida,
tal como foi contemplado pelos mais velhos que, aliás, até mesmo se banhavam e
brincavam em suas águas. Sim, houve um dia que esse rio possuía águas límpidas!
Contudo, gradativamente foi agredido pelos poluentes despejados em suas águas.
E, tudo isso feito com o consentimento da omissão das autoridades e cidadãos
dessa cidade, de tal modo que, direta e indiretamente contribuíram para a
aniquilação da beleza e da vida presente em suas águas. Como bem escreveu Araí,
de maneira poética:
“Eram
tão claras aquelas águas onde eu, criança, nadava... via-se na cristalina
corrente, os peixinhos num balé aquático, simplório e belo! Era tão lindo
aquele rio que desenhava a cidade como um espelho ondulado! Ah! Cachoeira,foste
a sangue-frio assassinado! E nem foste dignamente enterrado!Hoje és, das
fábricas, fossa,estás morto apodrecendo a cidade. Te peço perdão Cachoeira pela
inconsequência dos homens que em nome do progresso te fizeram depósito de
lixo... Perdoe-os Cachoeira querido, e descanse em paz”! (ARAÍ, 1995).
Os primeiros sinais de poluição no rio
Cachoeira são antigos, remontam ao ano de 1987, com o despejo de esgoto no
ribeirão Mathias, um de seus afluentes. Ainda assim, como a população era muito
pouca, não tinha muita interferência na qualidade da água do rio (ALMEIDA,
1999).
Foi só a partir da década de 30, quando o porto
de Joinville estava com excesso de movimento, que o Cachoeira começou a ser
explorado como meio de escoamento da produção de madeira e dos produtos do
Moinho do Trigo (ALMEIDA, 1999).
Mas, somente lamentar não basta; é preciso
medidas efetivas para se mudar essa situação. Sendo assim, devem ser reduzidos
os diversos tipos de poluição como poluição térmica que é aquela que vem do
lançamento nos rios de água aquecida usadas no processo de refrigeração de
siderúrgicas e usinas termoelétricas a poluição de biodegradáveis que é gerada
por produtos químicos, decompostos pela ação de bactérias. Um exemplo disso são
os detergentes, fertilizantes, inseticidas, etc (MARCOLINO, [s.n.d.]).
Diante desse quadro caótico, há sinais de
esperança que se deve mencionar. Desde a década de noventa ocorrem coletas em vários
pontos do rio e mesmo que se pense o contrário o nível de poluição do rio tem
diminuído gradativamente graças as medidas de proteção adotadas (ALMEIDA,
1999).
Contudo, infelizmente, ainda existe falta de
fiscalização do poder público para evitar que indústrias despejem na rede de
esgoto e no rio Cachoeira seus resíduos químicos.
Vários são os elementos despejados no rio
Cachoeira. Quando se menciona sobre a poluição de rios, logo se têm em mente as
grandes empresas, porém, em muitas cidades pela falta de planejamento urbano o
esgoto doméstico é jogado diretamente nos rios, esse esgoto é um dos principais
causadores da morte de peixes nesses rios. Portanto, na realidade esse problema
não é de exclusividade da cidade de Joinville, pois é um problema que acomete
muitas cidades.
Diante disso, é necessário cada vez mais
conscientizar os cidadãos, especialmente as futuras gerações para que se
conscientizem da necessidade de cuidar dos recursos naturais, uma vez que os
mesmos não são inesgotáveis.
Quanto ao rio Cachoeira em particular não há
solução fácil e nem rápida, contudo, acredita-se que algo pode ser feito agora,
a fim de que no futuro a sua situação se torne melhor. Quem sabe em um futuro
próximo, a partir das medidas necessárias sendo executadas, não se verá vida
outra vez nesse rio que é símbolo da história da cidade de Joinville. Quando
então se verá peixes, garças, e demais seres expressando a saúde de suas águas,
então a cidade poderá demonstrar publicamente sua condição cidadã e de comprometimento
com a vida. Esta tarefa não pode ser mais postergada para o futuro, trata-se de
medida urgente a ser tomada por pelos cidadãos, hoje!
Só assim, as gerações futuras da cidade dos
príncipes poderão contar com a existência de um rio com águas puras e não mais
com esse rio que agride os olhos, narinas e a alma joinvillense.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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e Ciências Ambientais”. São Paulo: UNESP/Melhoramentos, 1998.
BAIRD, C. (2002). “Química Ambiental. Bookmann”. Porto
Alegre – RS. 2ª ed. 622p.
CARVALHO A. R.; OLIVEIRA M.
V. C. (2003). “Princípios Básicos do
Saneamento do Meio”. SENAC São Paulo. 10ª edição.
CALDEIRA, Jorge. Mauá: empresário do Império.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
DUBY, Georges. Idade média, idade dos
homens. São Paulo: Companhia das letras, 1989.
FERREIRA, João
Paulo Mesquita Hidalgo. Nova história integrada. Campinas: Companhia da
Escola, 2009.
Fundação Municipal do Meio
Ambiente – FUNDEMA.
GONÇALVES, M.L. (1993). “Geologia para Planejamento de uso e
Ocupação Territorial do Município de Joinville”. USP - São Paulo, Tese de
Doutorado.
GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros
habitantes do Brasil. São Paulo: Atual, 1994.
KOSHIBA, Luiz. História do Brasil. São
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OLIVEIRA FRANCO, José
Gustavo de. Direito Ambiental
Matas-Ciliares. Curitiba: Juruá
Editora, 2005.
RAMOS, Mila. Joinville: flores, festas e
trabalho. Florianópolis: Mares do Sul, 1998.
SILVEIRA, W. N.; KOBIYAMA
M.; GOERL R.F.; BRANDENBURG B. (2009). “História
das Inundações em Joinville”. 1851 – 2008. Organic Trading: Curitiba – PR.